Olá, professores(as), tudo bem com vocês?

Em nossas andanças pelo Brasil, mais especificamente nos atendimentos que realizamos junto a vocês, com muita frequência têm aparecido dúvidas sobre o ensino da letra cursiva para crianças que se encontram no processo de alfabetização.

“Quando iniciá-lo”? “Quando a criança precisa ter dominado o uso da letra cursiva”? “O ensino da letra cursiva para crianças bem pequenas é válido”? Como podemos ver, o assunto é polêmico e aponta para várias direções (técnicas, subjetivas, mercadológicas etc.). Nesse sentido, nossa intenção não é apresentar um “veredicto” sobre o tema, mas, antes, problematizar alguns pontos a fim de que você, professora/professor, possa refletir e, a partir disso, tirar suas próprias conclusões.

Iniciemos pensando sobre o papel da escola do século XXI no desenvolvimento de aprendizagens. Sabemos que com a homologação da BNCC (2017), o sistema educacional brasileiro tem o compromisso de promover uma educação integral, a qual leva os estudantes a desenvolver não somente as competências cognitivas, mas também as chamadas competências socioemocionais. Para que isso aconteça, é papel da escola a edificação de aprendizagens que sejam significativas e, para tanto, é fundamental que essas mesmas aprendizagens tenham pertinência e relação com a vida das crianças, adolescentes e jovens dentro e fora da escola.

Assim sendo, cabe-nos um questionamento: O que de fato é importante para a alfabetização? Se você, professora/professor, está pensando em algo como “é importante que meu aluno aprenda a ler e escrever”, então, é preciso ter clareza sobre o que significa o conceito de “ler” e o de “escrever”. Isso porque a depender da resposta, diferentes posturas alfabetizadoras são tomadas. Vamos aos exemplos: se alguém entende que “ler” é decodificar os códigos linguísticos apenas, atividades e “textos” como os encontrados nas famosas cartilhas lhe farão sentido. Por extensão, “copiar” será entendido como “escrever”.

Por sua vez, se alguém entende que “ler” é – muito mais do que decodificar – construir sentidos, realizar inferências e antecipações, buscar significado naquilo que se encontra nas entrelinhas de um texto, promovendo um diálogo com a vida e o mundo, o trabalho a partir dos “textos” que circulam na vida real (os chamados “gêneros textuais”) fará mais sentido. Dentro desse viés, a compreensão sobre o ato de “escrever” é muito mais do que “copiar”.

Dentro do ensino de língua materna, a BNCC estabelece a perspectiva enunciativo-discursiva de linguagem como concepção epistemológica norteadora das práticas desenvolvidas nas aulas de língua portuguesa.  Assim, nosso ponto de partida e de chegada deve ser sempre o texto (verbal e não-verbal), tendo presente as diferentes práticas de linguagem (oralidade, leitura/escuta, análise linguística e produção textual).   

Para o ciclo de alfabetização, tal abordagem requer que a professora/professor ofereça às crianças diversos textos (e de qualidade!) a partir dos quais “os alunos poderão interpretar o que ouvem/leem, pensar e refletir com base em seu conhecimento prévio e formular hipóteses sobre a utilidade, o funcionamento e a configuração da escrita, tornando-se, dessa forma, leitores e produtores de discursos significativos” (Concepção de Ensino Língua Portuguesa- SPE).  

Isso posto, cabe-nos fazer uma pergunta: se o que desejamos é que as crianças se tornem leitoras e produtoras de “discursos significativos” (ou seja, textos orais ou escritos com sentido), para que isso aconteça o que é relevante priorizarmos em nossas práticas de ensino?

No meio acadêmico, há teóricos que defendem que o ensino da letra cursiva contribui para o desenvolvimento da coordenação motora e da memorização. Por outro lado, também há aqueles que afirmam ser o ensino da letra cursiva (ou pelo menos a grande atenção a ele demandada) algo de importância relativa, visto que no cotidiano fora da escola a criança praticamente só encontra textos grafados em letra de imprensa.   

Também é verdade que no cotidiano escolar, professores e coordenadores se deparam com a pressão mercadológica que se manifesta nas falas dos pais que cobram o ensino da letra cursiva mesmo para crianças bem pequenas, sob a ameaça de que se isso não ocorrer eles retirarão o filho da escola.

Diante de tantas visões divergentes, convidamos você, professora/professor, a fazer ouvir sua voz. Assim, nessa “pausa didática” gostaríamos de saber o que você pensa. Você concorda com o ensino da letra cursiva? A partir de que idade? Você não concorda com o ensino da letra cursiva? Por quê?  Aguardamos seus comentários…  

Grande abraço,

Time de Assessoria Pedagógica. 

Para dúvidas e/ou sugestões, entre em contato conosco:

Tatiane Sprada – tatianesprada@positivosolucoes.com.br