Oi, Professoras e Professores!

Entre os muitos desafios que a educação contemporânea tem, há um que vale a pena destacar: trabalhar a interdisciplinaridade em sala de aula, especialmente por meio de projetos.

Sabe-se que há muitos estudos importantes a respeito desse tema, entre eles o de Hilton Ferreira Japiassu, grande pesquisador brasileiro, nascido no Maranhão. Em um de seus clássicos e importantes livros, intitulado Interdisciplinaridade e patologia do saber, podemos encontrar a seguinte passagem:

“A exigência interdisciplinar impõe a cada especialista que transcenda sua própria especialidade, tomando consciência de seus próprios limites para acolher as contribuições das outras disciplinas. Uma epistemologia da complementaridade, ou melhor, da convergência, deve, pois, substituir a da dissociação.” (JAPIASSU, 1976, p. 26)

Destaco aqui, da citação desse grande estudioso, três ideias fundamentais, quais sejam:

  • a consciência dos próprios limites;
  • o acolhimento das contribuições de outros saberes;
  • a convergência, em lugar da dissociação.

É possível entender esses 3 momentos como fundamentais para o desenvolvimento de projetos interdisciplinares significativos, importantes para a evolução dos alunos. É preciso destacar aqui o esforço de muitos professores em gerenciar projetos interdisciplinares nas escolas. Se assim agiram, é porque, com consciência de seus limites, compreenderam a importância da partilha, do diálogo com outros componentes curriculares. Dessa forma, abrem-se espaços para a convergência de saberes em lugar da dissociação.

Não se trata, porém, de tarefa fácil, pois implica, entre muitos aspectos, a adesão de outros professores da escola, bem como a dos gestores e, principalmente, a dos alunos envolvidos.

Em cada trabalho que os professores realizam, o diálogo com mais de uma das 10 competências da BNCC se consolida, entre as quais aqui vale destacar a competência 2, relacionada ao desenvolvimento da curiosidade intelectual dos alunos:

“Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções, (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas.” (BNCC, 2018, p. 9)

Os projetos interdisciplinares são um terreno fértil para a construção de um conhecimento mais compartilhado; portanto, mais amplo, mais elaborado e mais sólido.

No que diz respeito à fundamentação dos projetos, deixo aqui a indicação de uma obra importante:

Aprendizagem baseada em projetos: guia para professores do ensino fundamental e médio – BUCK INSTITUTE FOR EDUCATION, Artmed, obra que discute a importância dos projetos em sala de aula, explicando, detalhadamente, os passos de um projeto e seus desdobramentos.    

Possibilidades de projetos interdisciplinares com o livro didático do Ensino Médio

Muitas são as oportunidades para a realização de projetos interdisciplinares a partir do livro didático. Chamo a atenção aqui para o livro da 1ª série, volume 3, capítulo 10: Texto de divulgação científica: o conhecimento para todos.  As atividades propostas nesse capítulo, justamente pelas características do gênero textual explorado (texto de divulgação científica), favorecem diálogos entre diversos componentes curriculares.

O primeiro texto do capítulo: Sobre robôs e humanos, de Vanessa Hevers, pode ser um “gatilho” importante para um Projeto Interdisciplinar significativo. Inicialmente, antes mesmo do planejamento do projeto, deve ocorrer a escolha do tema. Para tanto, pode-se explorar o texto sob diversos aspectos, propondo aos alunos respostas às seguintes perguntas:

I – Que componentes curriculares podem ser visualizados no texto lido? Qual a contribuição de cada um deles para a construção dos sentidos?

II – Como poderíamos ampliar a discussão realizada? Há mais informações que podem ser debatidas e pesquisadas?

III – Que outros textos podem ser considerados de divulgação científica? Por quê?

IV – Como os textos com os quais os alunos tiveram contato podem ser base para um projeto interdisciplinar?

Esses são apenas alguns questionamentos a serem respondidos pelos alunos e professores que estão construindo as bases para o planejamento de um projeto interdisciplinar. Destaco, aqui, que a ideia do projeto interdisciplinar pode surgir dos próprios alunos, com o aprimoramento da proposta por parte dos professores, o que favoreceria, significativamente, o protagonismo dos alunos do Ensino Médio, termo diversas vezes enfatizado na BNCC.

Fica aqui o meu respeito e admiração pelos professores que ousam em suas dinâmicas de sala de aula, buscando, por meio de projetos, o diálogo com outros saberes.

Desejo-lhes excelentes projetos interdisciplinares!

Prof. Valter Zotto de Andrade (Assessor de conhecimento)