Olá, professores e professoras!
A intertextualidade constitui um importante recurso no que se refere à construção de novos textos e de novos sentidos a textos que já foram construídos anteriormente, incorporados a outras produções já escritas ou que ainda serão concebidas. Esse fenômeno pode ser considerado hoje um recurso linguístico de largo emprego nas mais variadas linguagens. Quem o desconhece certamente encontrará dificuldades na leitura de textos – da linguagem literária quanto da não-literária – que o incorporam.
Nessa perspectiva, a BNCC sinaliza que, ao trabalhar com o intertexto, devemos analisar os efeitos de sentido decorrentes do uso de mecanismos de intertextualidade (referências, alusões, retomadas) entre os textos literários, entre esses textos literários e outras manifestações artísticas (cinema, teatro, artes visuais e midiáticas, música), quanto aos temas, personagens, estilos, autores etc. Assim, por que não utilizar o gênero Charge para trabalha a intertextualidade tanto nas aulas de língua portuguesa quanto nas dos outros componentes curriculares para abordar os diversos temas atuais que circulam socialmente?
Neste Post vamos propor uma atividade, adaptada do Livro de Receitas do Professor de Português – atividades para a sala de aula, de Carla Viana Coscarelli, para trabalhar o intertexto tão presente nas charges que, por meio de críticas, retratam o nosso cotidiano.
Esses textos, no caso as charges, podem ser um excelente recurso para abordar não só o trabalho com a intertextualidade temática, encontrada, por exemplo, entre textos que partilham os mesmos temas, mas também para desenvolver habilidades de leitura, como a produção de inferências, a consideração da situação de comunicação, a percepção da ironia e a dedução dos prováveis objetivos do autor na produção de uma charge.
Assim, inicie o trabalho a partir de uma conversa com seus alunos sobre charges, apresentando algumas delas e depois discuta com o grupo qual o propósito de cada uma delas. Entretanto, não mostre muitos detalhes sobre esse gênero, já que isso será tarefa de todos os alunos.
Feito isso, dê a eles a seguinte instrução:
Vocês procurarão charges com a mesma temática, na internet, e selecionarão duas que vocês entenderam e duas que não conseguiram compreender e que também abordem a mesma temática. Descubram por que isso acontece, ou seja, por que vocês entendem algumas charges e outras não.
Os grupos devem apresentar as charges para os colegas, bem como explicar as que compreenderam e as que não compreenderam. A turma deverá levantar suas conclusões a respeito do conhecimento necessário para a compreensão de charges e os fatores que podem levar à não compreensão deles. Esse trabalho pode resultar em um conjunto de “dicas para quem quer entender uma charge”; ou em pequenos textos explicativos escritos para acompanhar as charges que foram encontradas pelos alunos.
Os trabalhos dos alunos devem sempre ser socializados, seja em forma de mural virtual ou de exposição na própria escola. As charges mais engraçadas podem ser expostas na sala, nos corredores da escola ou outras formas que o professor criar. Isso é muito bom para a autoestima dos alunos, já que verão seus trabalhos valorizados em um espaço público e apreciado por outros leitores que não apenas o professor.
Objetivos do trabalho:
Essa atividade proporciona a capacidade de analisar como os fatores extralinguísticos – contexto/conhecimentos prévios – influenciam na construção e interpretação de um texto. Para ser compreendida, uma charge depende de vários fatores, como os conhecimentos prévios do receptor para a interpretação da mensagem (englobando aí o fator contexto). Charges são textos que fazem alusão a algum acontecimento do momento (político, econômico, social etc.) e para que atinjam o seu objetivo de provocar o humor, as charges dependem de que o leitor tenha conhecimento do contexto que envolve a cena retratada.
Logo, se o leitor desconhece qual é o acontecimento em questão, a charge muito provavelmente não fará sentido algum. Também é importante ressaltar os aspectos não verbais: as charges têm como característica principal serem desenhos, caricaturas dos acontecimentos (ou pessoas) em questão. São a união de desenhos e textos verbais, às vezes, até mesmo somente desenho (sem o texto verbal). Sendo assim, oferecem ao professor uma ótima oportunidade para explorar a linguagem não verbal e a intertextualidade temática.
Os alunos devem ser levados a chegar a tais conclusões por reflexões próprias, pela análise das charges que entenderam e das que não entenderam. Trabalhando em grupo, essa análise fica mais fácil, pois aquelas charges que um aluno não entendeu, o outro poderá entender (e compartilhar a compreensão da charge). Desse modo, fica mais fácil compreender que é necessário o conhecimento prévio da situação retratada para que a charge possa ser entendida. O grupo deve ser incentivado também a explorar os aspectos não verbais do texto, como traços caricaturais e outros elementos presentes, a fim de ver como tais elementos têm muito o que dizer, bem como a comparar as charges com intuito de abordar a intertextualidade temática.
Nesse trabalho, o professor pode discutir com os alunos as principais características das charges, os principais chargistas do Brasil e os principais alvos das charges. Ao trabalhar com esses textos, consideramos que o professor não pode perder a oportunidade de estimular discussões sobre linguagens não verbais, formas de poder, liberdade de expressão, entre ou outros, como a intertextualidade temática encontrada nas charges, pois esse gênero textual é um material riquíssimo para fomentar e subsidiar essas discussões.
Adaptado de uma atividade proposta no livro: COSCARELLI, Carla Viana. Livro de Receitas do Professor de Português – Atividades para a sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.
Abraços assessor Fábio.