Olá professor e professora!

Hoje iniciamos uma série de textos entitulada: “A neurociência explica” que vai trazer mais aspectos deste tema nos diferentes segmentos. E começaremos pela Educação Infantil, pois temos muitos “neuromitos” sobre o desenvolvimento do cérebro da criança, como as janelas de aprendizagem, a plasticidade, os estilos de aprendizagem e até a porcentagem que utilizamos (e as crianças) do cérebro. Mas, começaremos do começo: a relação entre neurociência e ludicidade, afinal, ainda temos uma cultura escolar que privilegia o registro em folha em detrimento da experiência efêmera, e precisamos falar mais sobre isso.  

Acompanhe, comente e aguarde as próximas postagens!  

A criança, desde os primeiros anos de vida, busca conhecer e interagir com o mundo à sua volta, conhecer, agir sobre a realidade e, a partir das transformações dessa realidade, aprender. Um dos elementos que estimulam tais comportamentos e aprendizagens na criança é sua motivação, fator essencial para o desenvolvimento de aprendizagens. 

O desafio neste sentido passa a ser despertar a curiosidade e estimular as crianças por meio de pequenas conquistas e gratificações (por exemplo, ganhos e representações simbólicas, atividades e brincadeiras livres). Assim, a questão que envolve engajamento e motivação passa a fazer parte da estratégia pedagógica a fim de atrair o foco atencional de crianças para as atividades propostas em sala de aula, que devem ser, respeitando as considerações de Piaget, essencialmente lúdicas.  

Como Piaget sustenta em sua teoria, as crianças antes dos 6 anos de idade ainda se encontram em um estágio pré-operatório, tendo suas capacidades de raciocínio lógico e abstração ainda pouco desenvolvidas; portanto, elas usam de outros recursos para compreender e adquirir conhecimentos sobre o mundo. Práticas educacionais que atendam tais necessidades e procurem facilitar e estimular essa forma de relação e entendimento de mundo (por exemplo, através do uso da fantasia, animismo e outros recursos lúdicos) podem auxiliar no desenvolvimento inicial das potencialidades das crianças. O uso de recursos lúdicos, especificamente, estimula a criança a se desenvolver através do seu interior e se apresenta como um dos recursos centrais. 

Para além disso, não menos importante, é que você seja capaz de proporcionar um ambiente seguro, estável e capaz de dar suporte emocional para a criança como um fator adicional, contribuindo desta forma para o processo de aprendizagem e aquisição de conhecimentos. Ou seja, não se trata apenas da atividade e estímulo propostos, mas também das condições que o educador será capaz de fornecer para o processo de aprendizagem enquanto um ambiente. 

De forma geral, podemos dizer que a educação infantil precisa estar voltada à estimulação da curiosidade e busca pela compreensão de si da criança e da sua relação com o mundo externo, como a sua relação com colegas (socialização) e educadores (professores e cuidadores). O uso de métodos de gratificação como comentado anteriormente pode auxiliar práticas pedagógicas e estratégias de ensino, devendo-se evitar métodos punitivos nos quais a criança recebe um “castigo” por seu não envolvimento ou por sua não resolução da atividade proposta. Ademais, as gratificações precisam ter um valor subjetivo para aquela criança, a fim de melhor reforçar o comportamento ou conhecimento aprendido. 

Esse assunto foi debatido em uma entrevista do especialista em neuroeducação, Dr. Franscisco Mora, autor de um livro internacionalmente reconhecido intitulado “Neuroeducación: solo se puede aprender aquello que se ama” (2017) (em sua tradução para o português, “Neuroeducação: somente se pode aprender aquilo que se ama”). 

Dr. Mora argumenta que no campo da Educação ainda há pouco conhecimento acerca do funcionamento do cérebro. Em entrevista, comenta sobre a época ideal para estimulação do aprendizado de leitura, a partir dos 6 anos, considerando a formação das conexões sinápticas responsáveis por tais habilidades. Não que crianças menores de 6 anos, na Educação Infantil, não sejam capazes de aprender a ler, porém o custo e sofrimento para tal aprendizado podem ser desnecessários e representar um estressor, tendo efeitos emocionais e comportamentais sobre a criança. 

Além disso, Mora reforça em suas palavras a necessidade da motivação e curiosidade para a aprendizagem. Adquirir conhecimentos leva a respostas cerebrais de gratificação e prazer e isso é um dos fatores que impulsionam crianças, desde muito cedo, a aprenderem e que servem para fortalecer a consolidação das nossas memórias. Entre as estratégias sugeridas pelo Dr. Mora está a presença de elementos provocadores, eliciadores de curiosidade nas crianças. Para captar a atenção de uma criança, ainda mais em períodos iniciais do desenvolvimento, quando tais capacidades ainda não estão bem desenvolvidas em nosso cérebro, não basta esperar que ela mesmo o faça. É preciso tornar o estímulo interessante, capturar sua atenção.  

 Por Karoline Barreto