O que é Letramento Matemático e qual a diferença entre Letramento e Alfabetização Matemática?

 Por que o Letramento Matemático é tão importante no processo de ensino-aprendizagem desde a Educação Infantil? São perguntas que nós, professores, devemos fazer e refletir para que a Matemática, na prática, não seja enfadonha e traumatizante para os nossos alunos da geração Alpha, como foi para a maioria de nós, adultos. 

Um exemplo de como o ensino de Matemática pode ser traumatizante é um simples cálculo de subtração2. Como você aprendeu a calcular 18-9? Geralmente a resposta é algo desse tipo: 

E a fala é a seguinte: 

Professor: — 8 dá para tirar 9? 

Alunos: — Não. 

Professor: — Então, o que fazemos? 

Alunos: — Empresta do vizinho…  

Professor: — Isso, empresta do vizinho, empresto 1, ele fica valendo? 

Alunos: — Zero. 

Professor: — E o outro? 

Alunos: — 18. 

E, por fim, calcula-se 18-9. Porém, observe que o cálculo e o processo são os mesmos. Quer dizer, fizemos toda essa mudança (emprestamos do vizinho) e o cálculo continua o mesmo do início ao fim. Imagine a bagunça nos pensamentos dos alunos. Esse processo não é Letramento Matemático, em muitos momentos pode ser considerado apenas a memorização de regras que “dão certo”. (NAVARRO, 2021) 

Por isso, o letramento se faz muito importante desde a Educação Infantil, assim como a alfabetização. Ambos devem ser praticados juntos, é como se um não vivesse sem o outro, na verdade nunca poderia ter vivido. Mas ainda há tempo para mudança! 

Outros exemplos, para melhor compreensão da diferença entre alfabetização e letramento, são resoluções de problemas do tipo: João precisa comprar melões, passou em frente sua casa um carro vendendo melões. João comprou 60 melões, mas só usou 40 deles, quantos melões sobraram? Nós, adultos, realizamos o cálculo rapidamente e a resposta é: sobraram 20 melões. Mas, os nossos alunos (geração Alpha e Z) iriam perguntar: O que o João fará com tantos melões? Ou ainda: como cabem tantos melões em um carro?  

Essas são indagações que devem ser feitas quando nós, professores, lançamos problemas desse tipo, que não fazem sentido ou estão totalmente fora de contexto. Tal problema era típico no processo de ensino quando nós, adultos, éramos alunos. Ele servia para aplicarmos técnicas de resolução de problemas (mesmo que esse não fosse um problema para nós) e, geralmente, os professores ouviam: Prof. a conta é “de mais” ou “de menos”? Porque estávamos preocupados com a conta e não com a interpretação e resolução do problema do João, pois sobrar vinte melões não parecia ser um problema para ele.  

Nesse contexto, o Letramento Matemático é o sentido que trazemos para o que ensinamos e para o que aprendemos. É a forma como realizamos o processo de ensino-aprendizagem considerando a interpretação e a criatividade dos alunos.  

Magda Soares (2004) explica que o letramento pode ser considerado como um momento de reflexão da técnica (alfabetização) e de como os conceitos apreendidos serão utilizados em meio social e individual, ou seja, é quando se tem consciência que a Matemática não se resume a uma sistematização de técnicas. 

Pensando dessa forma, as fórmulas e técnicas ainda serão ensinadas, mas o primordial deve ser buscar a total compreensão do aluno, ou seja, a razão pela qual determinada técnica ou fórmula “dá certo”. 

Um exemplo bem engraçado sobre isso aconteceu comigo há doze anos, quando estava no estágio supervisionado, acompanhando uma professora regente, que ministrava uma aula sobre o conteúdo de área e volume, ela passou uma lista de exercícios, os quais os alunos resolviam utilizando uma fórmula. Um dos alunos levantou a mão e impaciente perguntou à professora por que aquela fórmula de área dava certo para todos os exercícios, ela respondeu: “Porque Deus quis”, foi o suficiente para que o aluno voltasse a fazer os exercícios e refletisse solitário em sua carteira.  

Momentos como esse foram vivenciados por nós, adultos, com muita frequência, porque não havia preocupação com o Letramento Matemático. Nesse período ainda se predominava o Movimento da Matemática Moderna, que de moderna não tinha nada!  

É por esse motivo que nos recursos do Sistema Positivo de Ensino trazemos várias maneiras e habilidades para resolver um problema relacionado a Matemática, assim como práticas de linguagem diversas. Entendemos que os alunos são indivíduos com necessidades de desenvolvimento diferentes umas das outras. Por isso, quando ensinamos um cálculo, por exemplo, pode haver alunos com facilidade de compreensão pelo ábaco, outros pelo material dourado, outros pelos materiais manipuláveis e outros pelo registro no papel. Portanto, estratégias com todos esses recursos devem ser aplicadas e aprimoradas em sala de aula, como proposto no livro didático do Sistema Positivo de Ensino.  

Por fim, ser alfabetizado em Matemática significa saber ler, escrever, interpretar textos e ter habilidades que contribuam para a ação crítica e criativa na sociedade. Assim, é nítido que apenas a memorização de regras e estratégias, a aritmética, a geometria, a álgebra e a estatística não darão conta do recado, porque tais habilidades pressupõem um sujeito letrado, que seja capaz de resolver problemas não somente escolares, mas de práticas sociais.  

Uma dica de atividade lúdica que explora o Letramento Matemático com uma linguagem áudio visual acesse o arquivo abaixo: 

🔗 ARQUIVO

Referências 

NAVARRO, Eloisa Rosotti. O desenvolvimento do conceito de Pensamento Computacional na Educação Matemática segundo contribuições da teoria Histórico-cultural. Tese de Doutorado. Universidade Federal de São Carlos. 2021. Disponível em: <https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/15112/NAVARRO%20TESE%20versa%cc%83o%20final%20po%cc%81s%20defesa.pdf?sequence=1&isAllowed=y> Acesso em: 26 abr. 2022.  

SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 25, Jan./ Abr. 2004.